Comecei a jogar bola por volta dos 4 anos. A primeira e mais nítida lembrança foi um gol a gol contra meu irmão, no corredor lateral do nosso prédio que dava de frente pras salinas, em São Pedro da Aldeia. Estava de chinelo e num chute errado, decepei a “tampa” do dedão (só quem passou por isso sabe do que estou falando), sangrou um bocado, mas deu tudo certo no final.
SPA, 1978.
Acabei lembrando também dos “últimos dias”, com um carrinho errado na tentativa de salvar a bola na lateral (um barranco, na verdade) e a repetição do mesmo movimento, que acabou numa torção do braço esquerdo seguido de gesso, mas felizmente não atrapalhou minha ida à Unijovem, um festival voltado para molecada, realizado no Riocentro em 1986. Pela primeira vez, vi um halfpipe de perto e vibrei com as manobras de Sergio Negão, Salada, Tioliba entre outros. Saí de lá com o gesso todo assinado, decidido a andar de skate e logo ganhei um Bandeirantes clássico, prematuramente aposentado pelo meu primo.
Continuei jogando bola, mas a atenção total era pro skate e
logo peguei um modelo maior da Bandeirantes, que virou febre na rua. A febre
passou e eu continuei, adquirindo um skate “profissional”. Comprei com meu pai
numa dessas lojas multimarcas do Norteshopping e no domingo seguinte, voltei lá
pra estreiar.
Judo-air. 1989
Mellanchollie. 1997
Das manobras da época, mais pausadas e basicamente feitas
com as mãos (boneless, inverts), evoluí junto com o esporte - aos olllies,
shove-its e flips, (deslizando) corrimãos além do switchstance (andando na base
contrária) que permance até os dias atuais - completando uma saga de mais de 10 anos
seguidos dedicados ao street.
Kick-flip 360. 1997
Montei meu escritório na praia de Ipanema em 2006 e por um
bom tempo, fiquei apenas olhando as centenas de bolas voando no ar. Em dezembro
de 2008, voltei a jogar, com os amigos da praia. No começo, era só um "novato"
com muita energia pra não deixar a bola cair. Em pouquíssimo tempo, já voava
nas primeiras bicicletas e chilenas (sem experiência prévia), moleza perto dos
anos de ralação no asfalto. Infelizmente, voar incomodava alguns, já que a
precisão não era total e por vezes, a bola caía. Diferente do skate, precisava
da compreensão de todos se quisesse radicalizar. Aprendi o básico, que muitos
consideravam como o “jogo” e fui percebendo a evolução do esporte, tanto nas
manobras quanto na movimentação.
Há tempos não andava de base trocada no skate e agora,
parece mais normal do que antes, pois com a altinha, estimulei bastante o uso
da perna esquerda (sou goofie, uso a direita na frente do skate e chuto 99%
das bolas com ela). É lógico que o aprendizado fluiu na intenção de dar as
mesmas oportunidades pras duas, diferente daqueles que costumam dizer que “a
outra perna não existe”. Como assim? Realmente não dá pra entender a
“paralisia” de uma perna que está lá e pode salvar o jogo, mas não se move
porque o jogador aceita a condição de ser assim ou assado, pra sempre. Isso me
faz lembrar daqueles que vão pra um show mas não dançam...
PXE x Botocarioca. Dez. 2011. Ao som de Mundo Livre S.A.
O futebol cresceu muito como espetáculo, mas não parece ter mudado
na forma de jogar desde sua invenção e isso foi levado pra altinha. Se há algum
tempo eu era apenas mais um replicando o clássico pra agradar aos mais tradicionais,
hoje sou um dos que puxam os limites do esporte e enchem os olhos de quem passa
na praia. E o que faço na areia, se reflete na minha vida, porque viver sem
evoluir é o mesmo que não viver.
Cap. 107: bicicleta na medida (2:15s) + letra voadora? (3:03s)
Cap. 107: bicicleta na medida (2:15s) + letra voadora? (3:03s)
PS: se a seleção canarinho conhecesse a altinha de Ipanema,
o hexa teria saído em 2014.
Todo mundo é capaz de dançar!
Sweet Honey - Slightly Stoopid