Todo dia de Sol parece o mesmo no Rio de Janeiro. Lá da
ponta esquerda de Ipanema, estica-se a massa de gente pela areia, mas o crowd
real é sempre no posto 9. O Coqueirão é referência na altinha e as bolasjá estão no ar desde cedo, como nos velhos
tempos, antes do decreto (que proibia a prática do esporte próximo à água antes
das 17h). O tal “bom senso” demorou pra chegar mas veio antes da Copa, que
finalmente passou e parece ter sido um sucesso, mesmo com a pior derrota do
Brasil (em toda história) e o 4º lugar em casa. A parte boa disso tudo foi ver
a Argentina perdendo no Maracanã, para a tristeza de "los hermanos" que invadiram
o Rio de Janeiro em peso, mas ralaram cedo. Deus é brasileiro! Que venham as
argentinas da próxima vez!
Botocarioca executando um helicóptero num dia lindo de inverno.
Mais uma foto do fera Filipe Costa!
Os dias frios costumam ser parecidos por aqui também. As
ruas estão vazias, comparadas aos dias de calor. Comprar qualquer coisa nos
mercadinhos do bairro por exemplo, costuma ser uma lenda mas não no Rio com cara
de Sampa desta sexta-feira (sábado e domingo), onde você vê um ou outro andando de moletom/bermuda/chinelo
na chuva.
De qualquer maneira, esses dias também tem seu valor. É
quando a gente descansa do treino frenético que se estende pelos dias de Sol,
que costuma ser ainda mais puxado no verão. Dos 38 dias filmados em 2014, 18
foram só em janeiro.
cap.110 - o 2ºdia do ano
cap.111 - na velocidade normal
Em pleno inverno, o Sol tem dado as caras, proporcionando
temperaturas agradáveis e dias lindos. Como já passamos da metade do ano,
resta iniciar a contagem para o próximo verão e a quarta temporada de Ipanema
Allteen. Os filmes do verão passado ainda são bastante atuais, mas o jogo que
tá rolando agora na areia, promete emoções ainda mais fortes para 2015.
Comecei a jogar bola por volta dos 4 anos. A primeira e mais
nítida lembrança foi um gol a gol contra meu irmão, no corredor lateral do
nosso prédio que dava de frente pras salinas, em São Pedro da Aldeia. Estava de chinelo e num chute
errado, decepei a “tampa” do dedão (só quem passou por isso sabe do que estou
falando), sangrou um bocado, mas deu tudo certo no final.
SPA, 1978.
Acabei lembrando
também dos “últimos dias”, com um carrinho errado na tentativa de salvar a bola
na lateral (um barranco, na verdade) e a repetição do mesmo movimento, que acabou
numa torção do braço esquerdo seguido de gesso, mas felizmente não atrapalhou
minha ida à Unijovem, um festival voltado para molecada, realizado no Riocentro
em 1986. Pela primeira vez, vi um halfpipe de perto e vibrei com as manobras de
Sergio Negão, Salada, Tioliba entre outros. Saí de lá com o gesso todo
assinado, decidido a andar de skate e logo ganhei um Bandeirantes clássico, prematuramente
aposentado pelo meu primo.
Continuei jogando bola, mas a atenção total era pro skate e
logo peguei um modelo maior da Bandeirantes, que virou febre na rua. A febre
passou e eu continuei, adquirindo um skate “profissional”. Comprei com meu pai
numa dessas lojas multimarcas do Norteshopping e no domingo seguinte, voltei lá
pra estreiar.
Judo-air. 1989
Mellanchollie. 1997
Das manobras da época, mais pausadas e basicamente feitas
com as mãos (boneless, inverts), evoluí junto com o esporte - aos olllies,
shove-its e flips, (deslizando) corrimãos além do switchstance (andando na base
contrária) que permance até os dias atuais - completando uma saga de mais de 10 anos
seguidos dedicados ao street.
Kick-flip 360. 1997
Montei meu escritório na praia de Ipanema em 2006 e por um
bom tempo, fiquei apenas olhando as centenas de bolas voando no ar. Em dezembro
de 2008, voltei a jogar, com os amigos da praia. No começo, era só um "novato"
com muita energia pra não deixar a bola cair. Em pouquíssimo tempo, já voava
nas primeiras bicicletas e chilenas (sem experiência prévia), moleza perto dos
anos de ralação no asfalto. Infelizmente, voar incomodava alguns, já que a
precisão não era total e por vezes, a bola caía. Diferente do skate, precisava
da compreensão de todos se quisesse radicalizar. Aprendi o básico, que muitos
consideravam como o “jogo” e fui percebendo a evolução do esporte, tanto nas
manobras quanto na movimentação.
PXE x Botocarioca. Maio 2009. Ao som de Mat Mc Hugh
Há tempos não andava de base trocada no skate e agora,
parece mais normal do que antes, pois com a altinha, estimulei bastante o uso
da perna esquerda (sou goofie, uso a direita na frente do skate e chuto 99%
das bolas com ela). É lógico que o aprendizado fluiu na intenção de dar as
mesmas oportunidades pras duas, diferente daqueles que costumam dizer que “a
outra perna não existe”. Como assim? Realmente não dá pra entender a
“paralisia” de uma perna que está lá e pode salvar o jogo, mas não se move
porque o jogador aceita a condição de ser assim ou assado, pra sempre. Isso me
faz lembrar daqueles que vão pra um show mas não dançam...
O futebol cresceu muito como espetáculo, mas não parece ter mudado
na forma de jogar desde sua invenção e isso foi levado pra altinha. Se há algum
tempo eu era apenas mais um replicando o clássico pra agradar aos mais tradicionais,
hoje sou um dos que puxam os limites do esporte e enchem os olhos de quem passa
na praia. E o que faço na areia, se reflete na minha vida, porque viver sem
evoluir é o mesmo que não viver.
Cap. 107: bicicleta na medida (2:15s) + letra voadora? (3:03s)
PS: se a seleção canarinho conhecesse a altinha de Ipanema,
o hexa teria saído em 2014.